Empreender sendo mãe na Itália

Como muitos imigrantes vindos para a Itália, Carol Monteiro chegou por aqui com a meta de reconhecer a sua cidadania italiana. Vinda de Campinas (SP) ela não esperava que um dos maiores desafios coletivos da atualidade estivesse chegando na Itália junto com ela nos primeiros meses de 2020: a pandemia de COVID-19.

Apesar do desafio a mais a cidadania italiana não foi a única coisa que @carolnaitalia conquistou nesses últimos três anos. Nesse período, além de italiana, ela se transformou na esposa do Edo, na mãe do Noah e na empresária à frente da loja de doces e bolos Sweet Samba Bakery. Como se tudo isso fosse pouco, atualmente a família reforma uma casa própria recém comprada. É sobre isso que conversamos agora.

Carol nel Mondo – Como foi a sua mudança para a Itália? Quais eram os planos?

Carol Monteiro – Saí pela primeira vez do Brasil, sozinha, em janeiro de 2020 para reconhecer a cidadania italiana. A pandemia chegou na Itália praticamente junto comigo, tomei decisões difíceis e me divorciei alguns meses depois de chegar aqui. Durante aquele período sem poder sair da cidade encontrei uma pequena comunidade de brasileiros que moravam por perto na época. Isso foi essencial para a minha saúde mental, ainda mais depois de passar meses sozinha num país diferente e lidando com tantas coisas delicadas. Diferentemente dos meus planos iniciais, acabei ficando na mesma cidade na qual fiz o reconhecimento e vivo aqui até hoje. Sempre passou pela minha cabeça trabalhar com algumas coisas que aprendi a fazer no Brasil, os doces principalmente, mas não era um plano exatamente.

CNM – Como os doces e o empreendedorismo entraram na tua vida?

CM – Comecei a trabalhar com 13 anos quando minha família no Brasil abriu um buffet de festas. Acabava ajudando com decoração, preparação dos doces e comidas. Fazia de tudo um pouco. Era garçonete, recepcionista e até ajudava na limpeza depois que tudo acabava. Acabamos fechando o buffet quando eu tinha 16 anos e comecei a trabalhar CLT mesmo, depois comecei a faculdade de Engenharia de Produção que depois troquei por Administração. Nesse meio tempo fui tatuadora e antes de vir para a Itália voltei a trabalhar em escritório com salário e benefícios ótimos para poder juntar as economias que faltavam para a mudança. Tranquei a faculdade de administração pouco antes de concluir. O interessante é que só depois de muito tempo percebi que, em paralelo com toda a vida e com esses trabalhos, sempre fiz bolos, doces e tudo mais. Seja como renda-extra ou para presentear amigos. Sempre foi algo que me trazia muita satisfação pessoal.

CNM – Como é empreender, sendo imigrante e mãe, por aqui?

CM – Quando o Noah nasceu eu tinha todo um planejamento de voltar a trabalhar e fui surpreendida por situações de saúde que mudaram um pouco o rumo que eu pretendia tomar, a tempistica das coisas. Foi quando, pensando no que fazer profissionalmente que me permitisse ainda ter a flexibilidade de estar com ele, lembrei da realização pessoal trabalhando com doces. Comecei faz pouquíssimo tempo e já percebi que conciliar com a maternidade é um grande desafio. Mesmo com a flexibilidade são responsabilidades que se acumulam. Tem que ter um jogo de cintura e um planejamento muito bem definido para dar conta da rotina. Aí entra a parte da satisfação pessoal. Empreender é algo, como muitas outras profissões, que precisa querer e gostar muito.

CNM – Existe espaço para brasileiros empreenderem na Itália atualmente?

CM – Empreendedor na Itália é algo que nós brasileiros temos grande chance de trazer inovação e profissionalismo. Apesar da cultura gastronômica italiana ser bastante tradicional, existe um potencial de diferenciação principalmente no modo em que atendemos os clientes e personalizamos os doces. Fora a demanda dos brasileiros que querem ter presente os sabores das raízes brasileiras, os doces típicos e tudo mais. Estamos nos mudando de casa e tenho preparado a cozinha pensando em atender, além de encomendas para festas, também doces a pronta entrega. Minha ideia é fazer delivery em Rovigo e cidades da região trazendo doces que por aqui nós brasileiros não encontramos nas docerias, apesar de amar os doces italianos. Nesse ponto quero buscar profissionalizar ainda mais a Sweet Samba e conhecer mais a fundo qual a demanda da região.

CNM – Como se tudo isso fosse pouco, vocês ainda comparam uma casa. Conta para nós?

CM – Esse ano tivemos uma reviravolta de rotina e de vida e por conta de uma questão de saúde do Edo e começamos a nos preocupar com a nossa segurança economica. Pensávamos sobre comprar uma casa futuramente, inclusive em outra cidade, e depois disso, contando também com uma enorme ajuda da família do Edo, decidimos antecipar esse projeto. Escolhemos um apartamento que se adequasse ao budget disponível (que não era tão alto) e optamos por um apartamento em Rovigo mesmo. O processo entre a escolha e a escritura levou em torno de 3 meses.

Edo, Carol e Noah com as chaves de casa

CNM – Vocês estão reestruturando algumas coisas. Tem alguma dificuldade maior?

CM – Justamente por termos escolhido um imóvel mais barato e mais antigo já sabíamos que algumas modificações teriam que ser feitas. De pouquinho em pouquinho faremos o essencial e com o tempo pretendemos investir no que é mais estético. A maior dificuldade foi o período principalmente. Não recomendo o período de agosto para fazer essas coisas e com relação à burocracias em geral. Por ser período de férias aqui na Itália encontramos dificuldade desde contratar serviços, até em encontrar alguns materiais. É tudo um pouco mais lento, mas no final está correndo tudo bem.

CNM – A Carol recém chegada na Itália acreditaria se alguém contasse na vida que você tem hoje?

CM – De jeito nenhum! Inclusive sinto que errei bastante, vivi muita coisa ao mesmo tempo, não recomendo (risos). Acredito sim que tudo faz parte de um percurso que era preciso vivenciar, situações que são também consequências de escolhas bem feitas ou mal feitas, que são fruto de como a gente pensa em determinado momento, tudo faz parte. A gente torce para sempre fazer boas escolhas, mas a Carol de hoje sabe que para equilibrar alguns pratinhos tem que deixar cair alguns outros, principalmente como mãe imigrante tentando empreender. A gente não dá conta de tudo, ninguém dá. Entender esse balanço é essencial para não pirar!

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